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Marcelo Braga

Marcelo Braga
Nome: Marcelo Braga
Apelido: Marcelinho
Perfil: Seu interesse pela escalada começa aos 10 anos de idade, quando olhava para o Morro do Cantagalo, em frente à janela de sua casa, em Copacabana – Rio de Janeiro. Admirava as pilastras de sustentação ali existentes e desejava chegar até elas. Para isso, entretanto, seria necessário subir por uma chaminé, fazendo uso de técnicas de escalada que não possuía. Até que, aos 13 anos de idade, em 1977, junto com um amigo e com a ajuda de um casal de escaladores, conseguiu chegar até lá, escalando. Nessa ocasião, atingiu também o cume do Cantagalo, o que, segundo ele, representou uma das melhores vitórias em escalada para si. Segundo Marcelinho – como carinhosamente é conhecido no meio –, o conceito de vitória não depende muito da dificuldade. Depende mais do que aquela dificuldade representa para a pessoa naquele momento.
Pouco tempo depois, viu os escaladores Maurício Motta e Garrido escalando a “Fissura Guilherme” – um artificial móvel, também no Cantagalo. Maurício Motta, que era considerado um dos melhores escaladores da época no Brasil, foi quem lhe deu o endereço do Clube Excursionista Carioca. Assim, Marcelo começou oficialmente a escalar com 13 anos de idade, através desse clube do Rio de Janeiro – e, daí, não parou mais. Aos 15 anos, depois de 8 ou 9 horas de escalada, venceu o “Paredão Lagartão”, com a companhia de Giovanni Tartari – uma escalada de 6º grau, considerada uma das mais difíceis vias do País à época – utilizando “segurança de ombro”.

Anos mais tarde, da escalada de aventura Marcelinho começou a migrar para a escalada de performance. Participou do primeiro campeonato sulamericano de escalada, do qual sagrou-se vencedor. Até então, o conceito de escalar pressupunha vencer os lances a qualquer custo, ainda que pisando em grampos. Naquela época, um grampo era considerado “a melhor agarra”, mas que, ao contrário delas, não quebrava. Nessa ocasião, André Ilha - que já era um escalador de vanguarda - começou a vender a ideia de que se tinha que escalar sem usar os apoios, ou seja, sem pisar nos grampos. Foi quando se começou a disseminar o conceito da “escalada em livre” pela “Máxima Eliminação dos Pontos de Apoio” – MEPA. Esse novo conceito representou a semente da escalada esportiva. Começou-se a buscar a dificuldade pela dificuldade em si, sem ser puramente pela aventura. Nessa período, Marcelinho começou a escalar boulders (ou blocos), com um tapetinho “roubado’ de casa para que pudesse limpar os pés. Paralelamente, na Urca, começou a ser desenvolvido o setor da escalada dos Ácidos – considerado o primeiro point de Escalada esportiva do Brasil, onde apareceram os primeiros sétimos graus do Brasil. Nessa ocasião, Marcelinho tinha aproximadamente 17 anos. Houve resistência no clube, onde não se acreditava ser possível a existência de vias de escalada com grau superior ao 6º. Ocorre que, a partir daí, foi aumentando a quantidade de lances de 7º grau, até que acabou a resistência que havia. Com a consolidação do 7º grau, foram naturalmente começando a surgir vias ainda mais difíceis, de grau 7º superior (sup). Entretanto, começou a surgir confusão, tendo em vista a diferença de dificuldade entre as vias de 7º sup. Assim, baseando-se na graduação americana, Marcelinho elencou todas as vias de sétimo grau até então existentes e, juntamente com literalmente a meia dúzia de escaladores existentes que à época conseguiam escalar as referidas vias, criaram um consenso dessa graduação. As vias de 7º grau existentes foram subdivididas em “a”, “b”, “c” e “d”. A via “Ácido Glutâmico” era a mais difícil entre todas, tendo sido graduada em 7d. Até que André Ilha, tentando fazer um lance para bater o grampo, acabou quebrando uma garra existente ao colocar um Cliff, e essa via ficou muito difícil na época, tendo sido “abandonada”, pois essa agarra seria crucial. Assim, a subdivisão “d” para o grau acabou ficando esquecida, tendo em vista ter sido aquela a única via assim graduada. A subdivisão do “a” ao “c” emplacou, assemelhando-se ao sistema francês. E após a subdivisão “c”, já se partia para o algarismo arábico seguinte. Essa parte da graduação brasileira (a das subdivisões em letras), portanto, pode-se dizer, foi “importada” da graduação americana, com pequena adequação que a fez parecer-se com a graduação francesa.

Outra contribuição importante de Marcelo Braga, durante sua trajetória como escalador, para o desenvolvimento da escalada, foi com relação aos solados utilizados nas botas/sapatilhas de escalada. Ele, que sempre teve interesse pelas escaladas fora do País, tinha vontade de ir para a Europa. Ouviu de alguns espanhóis quanto à existência da "goma cozida", feita de pneu de avião e que estaria revolucionando a escalada mundo à fora - posteriormente utilizada pela fabricante Boreal em seu modelo "Fire". Até então, Marcelinho nunca havia viajado para a Europa. Conseguiu um empréstimo com a sua mãe, viajou para a Europa e, de lá, trouxe uma bolsa cheia de solas de borracha de "goma cozida" e, assim, em sociedade com Alexandre Canela, acabaram montando a primeira ressola do Brasil.

Marcelo Braga chegou a graduar-se em engenharia civil e a fazer um estágio, mas percebeu que não era exatamente o que desejava para si e acabou desistindo da área. Entretanto, foi graças à perseverança desenvolvida durante suas tentativas de escalar boulders dificílimos que conseguiu ser aprovado em diversos concursos públicos, que lhe abriram o caminho profissional que foi conciliado com a escalada, família e os filhos ao longo dos anos. Depois que seus filhos nasceram, reduziu bastante o seu ritmo nas escaladas, mas nunca chegou a abandonar o esporte.

Mais recentemente, após já ter passado por 2 cirurgias de joelho, Marcelinho passou a dedicar-se à produção do documentário “Ganbatte”, projeto por ele idealizado, com o objetivo de desafiar-se para celebrar o privilégio de envelhecer, treinando para escalar uma via de décimo grau. Convidou outros escaladores de ponta e continua firme em seu objetivo. A palavra “ganbatte” é oriunda da filosofia japonesa que se significa algo como tentar ser o melhor que se pode ser, dando o melhor de si.

Acesse o link para ouvir o podcast de entrevista com Marcelo Braga: https://open.spotify.com/episode/2lkwwk0vX4xXF5PJAjOET9?si=UvL728gjTUe-Rm3JIxpCfQ
Estado: Minas Gerais
Cadastrou-se em: 08-05-2019 às 13:04

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